O director do departamento africano do Fundo Monetário Internacional (FMI), Abebe Aemro Selassie, considera, em declarações à Lusa, que os investidores globais têm de olhar para África porque o continente terá um papel cada vez mais preponderante. Não descobriu a pólvora, mas anda lá perto, eventualmente repristinando o que pensavam os colonizadores de há séculos.
“África vai ter um papel cada vez mais importante, e é por isso que o investidor privado tem de ter atenção, senão perde o próximo barco do crescimento”, disse Abebe Selassie, quando questionado se o impacto da pandemia de Covid-19 afectou a percepção dos investidores sobre o continente.
Falando à Lusa por videoconferência a partir de Washington, a sede do FMI, o director do departamento africano apresentou vários argumentos para sublinhar a importância de África para os investidores globais.
“O Produto Interno Bruto e a população de África são do tamanho da Índia, por isso não é possível ter uma estratégia global sem ter também uma estratégia para África”, disse Selassie, admitindo que “um investidor pode olhar e pensar que são 54 economias e que são demasiado pequenas, pode optar por não investir lá, mas decide por sua conta e risco porque pode falhar a próxima grande fonte de crescimento e também de lucro, francamente”.
Entre os aspectos salientados por Selassie está a evolução demográfica em África, o continente mais jovem e que terá a maior força de trabalho nas próximas décadas.
“A transição demográfica está em curso. Se um investidor pensar em como posicionar a sua companhia daqui a dez anos, se pensar em como sustentar o seu negócio, vai ver que a mais abundante força de trabalho está em África, já que em 2030 metade dos que entrarem na força de trabalho estarão na África subsaariana, numa altura em que a população em idade laboral estará a diminuir noutras regiões do mundo”, comentou.
Para além disto, o director do departamento africano elencou ainda o crescimento não só da classe média africana, como do próprio mercado.
“Talvez ainda mais importante que isto, se o investidor procura bens de consumo ou bens de construção, na verdade a procura por todos os bens virá de África, por isso se procura um mercado tem também de olhar para o continente, os números são convincentes, e os dados estão lançados, isto vai mesmo acontecer”, concluiu.
O papel da China
“Nos últimos 20 anos, a economia crescente da China tem sido uma das principais forças motrizes do crescimento da economia mundial. Na minha participação na China International Import Expo 2019, em Xangai, na China, defendi que graças à sua estratégia “One Belt, one Road”, a visão da China agora garante que o crescimento global, por sua vez, contribua para consolidar a força económica da China a longo prazo”, afirmou Isabel dos Santos.
A empresária angolana afirma que “no caso de África, a política tributária de importação da China, a tarifas zero, para produtos “Made in África”, é uma oportunidade extraordinária para aumentar a presença e o comércio africanos com a China e para crescer e fazer prosperar os nossos produtos, os nossos negócios, as nossas economias e as nossas comunidades”, acrescentando que a “venda dos nossos produtos “Made in África” no mercado chinês permite oportunidades de trabalho e criação de empregos para os jovens africanos”.
Do ponto de vista de Isabel dos Santos, a tese do Presidente Xi Jinping permite ponderar três ideias concretas que ajudariam a impulsionar o comércio entre a China e África.
Primeira ideia é uma recomendação aos governos africanos: “Precisamos de melhorar o nosso desempenho e eficiência como plataforma de exportação para a China, se queremos aproveitar ao máximo a oportunidade de entrar no mercado chinês».
Para isso, considera Isabel dos Santos, “será necessário melhorar a proximidade e a qualidade do diálogo entre as empresas do sector privado e as autoridades do governo local”, a recorda que em tempos foi a Xangai “para promover a Luandina, uma cerveja premium, um produto totalmente africano, de óptima qualidade, elaborado com os melhores ingredientes”.
“Criamos a Luandina inspirada na força do deserto do nosso continente, na pureza da água dos nossos rios, na beleza refinada da nossa cultura, para que seja a melhor cerveja africana”, disse a empresária, relembrando que “o potencial oferecido pela abertura do mercado chinês é ilimitado”, sendo por isso “imperativo reduzir a longa burocracia e atrasos no processo de exportação no porto de partida, aumentando a nossa eficiência” e, por essa via, reduzindo os custos locais que “ainda são muito altos em proporção ao custo total das operações de exportação”.
“Este diálogo e essa proximidade entre entidades públicas e privadas são fundamentais para capitalizar e usar a janela aberta ao mercado chinês de produtos africanos e gerar crescimento económico e empregos para África”, afirmava Isabel dos Santos.
A empresária recorda que “o presidente Xi Jinping expressou a sua visão sobre um comércio global mais inclusivo e equitativo que seja mais robusto”, sendo que “a justiça no comércio é um conceito fundamental”.
“Precisamos do apoio e da boa vontade da China para ajudar a promover e fornecer produtos “Made in África” para plataformas de comércio electrónico. A igualdade exigiria que as plataformas africanas de comércio electrónico fossem tratadas como qualquer outro produto no mundo”, dizia Isabel dos Santos, acrescentando que “através de plataformas gigantes de comércio electrónico, podemos trabalhar juntos e ser um exemplo concreto da visão da China, para estabelecer um comércio internacional mais diversificado e mais justo”.
Um dos Objectivos das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável é o trabalho decente e o crescimento económico. África precisa de condições equitativas para poder comercializar e vender produtos “Made in África”, e isso seria uma maneira de alcançar o crescimento económico de África.
“Em África, a sabedoria é geralmente expressa em provérbios. Fiquei particularmente emocionada com a mensagem do presidente chinês: “Os jovens na China sempre dizem que o resto do mundo é tão grande, e gostaríamos de ver mais disso” e dizemos-vos: “venham para a China para descobrir nosso enorme mercado””, relembra Isabel dos Santos.
Isabel dos Santos assumia (até que alguém considerou que o seu apelido “Santos” era a causa de todos os males) que representava “uma nova geração de empresários africanos que é uma nova realidade económica do nosso continente. Homens e mulheres de negócios em África estão a aumentar a sua presença globalmente, fora de África”.
Folha 8 com Lusa